Chile
Chiloé: experiências autênticas que poucos conhecem
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1 mês atrásno

Em nossa primeira visita a Chiloé, cinco dias pareciam suficientes para conhecer os principais pontos de nosso interesse. No entanto, nessa nova viagem de oito dias, o destino nos revelou uma verdade surpreendente: existe uma Chiloé invisível e sedutora que permanece oculta ao turismo convencional – um território que se revela em camadas, cada uma mais envolvente que a anterior.

Retornamos com o simples desejo de expandir nosso roteiro inicial, mas nos encontramos com o lado profundamente autêntico do arquipélago. Esta descoberta transformou completamente nosso olhar sobre o destino, conectando-nos com experiências imersivas que a maioria dos visitantes desconhece. Assim, mais que uma viagem, plantamos a semente para explorar ainda mais deste Chiloé mágico em futuras visitas.

Detalhes que fizeram a diferença em Chiloé
Vários motivos tornaram a nova viagem inesquecível! Um deles foi certamente a hospedagem por 5 noites no maravilhoso Hotel Refugia Chiloé, que recentemente assumiu o comando do então Hotel Tierra Chiloé.

As experiências autênticas e imersivas oferecidas, com intuito da divulgação e preservação da cultura e da natureza chilota, foram determinantes para criar um roteiro autêntico Chiloé que superou todas as expectativas.

A equipe do hotel nos conduziu por experiências que desvendaram um Chiloé mais profundo e pessoal — distante do olhar superficial dos roteiros mais comuns.

Nos outros três dias, nos hospedamos no mesmo hotel da viagem anterior, o Enjoy Chiloé Hotel De La Isla. No entanto, ainda estávamos imersos na atmosfera reveladora do Refugia — experiências que nos apresentaram um Chiloé oculto, longe das rotas mais previsíveis do turismo.

Por isso, seguimos a mesma linha de passeios, orientadas por agentes locais, o que tornou toda a viagem ainda mais especial — sem dúvida, uma das melhores que já fizemos.
Vivências autênticas: explorando Chiloé além dos pontos turísticos
Algumas vivências desta segunda visita explicam por que nos sentimos tão em sintonia com o modo de vida chilote — veja por que essa conexão foi tão marcante.
– Catamos marisco como os chilotas
Durante a maré baixa na lua nova (momento ideal segundo a tradição local), catamos mariscos na praia. Armados com galochas de cano longo, pequenas enxadas e balaio de fibra nativa, experimentamos o árduo trabalho de remover areia, selecionar e lavar as conchas. A recompensa veio depois, quando o chef do hotel transformou nossa “colheita” em um jantar inesquecível.

– Visitamos “tijeras” tradicionais
Conhecemos dois estaleiros artesanais onde mestres carpinteiros continuam construindo embarcações usando as mesmas técnicas que seus antepassados aplicaram nas igrejas patrimoniais. Vê-los trabalhando a madeira com ferramentas simples, mas com extraordinária precisão, foi como testemunhar o passado vivo.

– Participamos da preparação do autêntico Curanto en Hoyo
Diferente da versão simplificada que muitos restaurantes oferecem, vivenciamos o ritual completo. O verdadeiro curanto é preparado em um buraco no chão, onde pedras são aquecidas até ficarem incandescentes.
Em seguida, sobre elas, são dispostas camadas específicas: mariscos, carnes, milcaos, chapaleles (espécie de pão cosido no vapor) e batatas. Posteriormente, tudo é coberto com folhas de nalca (planta nativa conhecida como pangue) que selam o “forno” natural. Por fim, a preparação é um evento comunitário, festivo e regado a música tradicional.

– Observamos a produção artesanal da chicha de maçã
Visitamos na área rural, um pequeno estabelecimento que ainda utiliza a prensagem tradicional da maçã, e observamos como é feita a chicha artesanal, tomamos e podemos compreender por que essa bebida é um símbolo da gastronomia chilota.

– Provamos o autêntico Milcao
Em Curaco de Vélez, visitamos o sítio de Sandra Naiman, uma produtora rural reconhecida e referência por suas práticas sustentáveis. Lá, tivemos o privilégio de provar o milcao — uma iguaria típica de Chiloé feita com massa de batata ralada e cozida, temperada com manteiga, moldada à mão, recheada com carne de porco e frita até ficar dourada e crocante.

– Navegamos pela costa da Península de Rilán
Conhecemos a costa menos explorada da Península de Rilán a bordo da embarcação de madeira Williche, construída em um dos estaleiros tradicionais que visitamos. Durante o trajeto, tivemos a surpresa inesquecível de avistar uma baleia jubarte — um encontro raro, que revelou a rica biodiversidade que envolve Chiloé, muitas vezes ausente dos roteiros convencionais.

– Escutamos histórias de bruxaria em Quicaví
Nesse pequeno vilarejo, conhecido como a antiga sede da mítica organização de bruxaria “La Mayoría”, conhecemos essas histórias que são transmitidas através de gerações e que habitam o imaginário chilota.

– Conhecemos o encantador Pueblito de Weltún
visitamos esse vilarejo em um dia nublado, com ocasional chuva fina, e de fortes ventos que, ao balançar as enormes árvores, criaram uma atmosfera misteriosa e mágica.

Originalmente cenário da telenovela “Isla Paraíso”, hoje é um museu a céu aberto com autênticas casas chilotas transportadas pela usual forma de “minga”, usando a tradicional técnica onde construções inteiras são movidas comunitariamente.

O conjunto reproduz perfeitamente uma cidade completa, com casas, igreja, cinema e armazém, todos exibindo os característicos telhados de tejuelas, com encaixes sem pregos e acabamentos que retratam fielmente a arquitetura tradicional do Arquipélago de Chiloé.

Para além do óbvio: o teto da Igreja de Nercón
Uma experiência particularmente memorável foi nossa visita à Igreja de Nuestra Señora de Gracia de Nercón. Embora seu acesso seja permitido ao público em geral, a maioria dos turistas acaba não conhecendo um tesouro, simplesmente por desconhecerem esta possibilidade.
Graças à expertise das guias do Hotel Refugia, tivemos o privilégio de acessar a parte superior da igreja – justamente onde se revela, de maneira impressionante, a técnica de construção naval aplicada à arquitetura religiosa. Ao caminharmos junto ao teto que reproduz o “fundo do barco”, pudemos apreciar de perto esta característica marcante do trabalho dos habilidosos carpinteiros chilotas.

Além disso, nossa guia nos revelou algo verdadeiramente surpreendente: pequenos furos posicionados estrategicamente acima do altar, de onde os jesuítas conseguiam discretamente observar os fiéis durante as cerimônias – um emblemático mecanismo de controle.

O Passaporte das Igrejas: um motivador inesperado
Uma das novidades que encontramos foi o ‘Pasaporte Ruta de las Iglesias’. Este pequeno livreto narra de forma sintética a história das 16 igrejas Patrimônio da Humanidade Unesco e dedica duas páginas a cada uma delas. Cada seção inclui uma ilustração da igreja, informações históricas relevantes, um espaço para o carimbo estilizado de cada igreja e um local para registro da data da visita.

O passaporte das Igrejas de Chiloé transformou-se em um inesperado motivador para percorremos alguns longos trajetos entre as igrejas sem perceber. Cabe assinalar a beleza da paisagem – mar, montanhas e até alguns vulcões do continente que podem ser vistos em muitos destes trajetos. À medida que coletávamos os carimbos, tudo ficava mais divertido, convertendo-se em uma envolvente busca pelo próximo destino.

No entanto, mantivemos o equilíbrio para que o aspecto lúdico, não ofuscasse o verdadeiro valor cultural e histórico de cada visita.
Chiloé: encantos revelados em nossa segunda visita
Durante nossa primeira visita, conhecemos nove das dezesseis igrejas reconhecidas pela UNESCO, porém várias estavam fechadas. Entretanto, desta vez, graças a uma melhor organização, com horários regulares definidos para visitação, encontramos todas abertas. Assim, conseguimos revisitar as nove anteriores e adicionar mais cinco ao nosso passaporte.
Ainda nos faltam conhecer as igrejas de Jesús Nazareno de Caguach e Nuestra Señora del Rosario de Chelín para completarmos nossa coleção. Quase conseguimos visitar Chelín, mas, como o acesso é somente por barco, e no dia agendado, as condições climáticas não permitiram a travessia. Sem dúvida, uma excelente razão para voltarmos no futuro!
As Cinco Rotas das Igrejas: dicas práticas para uma exploração eficiente
As 16 igrejas Patrimônio da UNESCO de Chiloé estão organizadas em cinco rotas estratégicas que facilitam a exploração e enriquecem o turismo em Chiloé com dimensão cultural. Estas rotas consideram localização, paisagem cultural e serviços turísticos disponíveis.
1. Ruta Costa Interior
Abrange quatro igrejas na costa leste da Ilha Grande, com fácil acesso por estrada: San Antonio de Colo, Nuestra Señora del Patrocinio de Tenaún, San Juan Bautista de San Juan e Nuestra Señora de los Dolores de Dalcahue. Além disso, oferece belas paisagens costeiras e mercados artesanais tradicionais.

2. Ruta Archipiélago de Quinchao
Inclui três igrejas: Santa María de Loreto de Achao, a mais antiga de 1730, Nuestra Señora de Gracia de Quinchao e Jesús Nazareno de Caguach. Enquanto duas estão na Ilha Quinchao, acessível por balsa regular, a de Caguach requer embarcação especial. Destaca-se por proporcionar uma experiência autêntica das ilhas menores.

3. Ruta Central
Concentra quatro igrejas no eixo Castro-Chonchi: San Francisco de Castro, Nuestra Señora de Gracia de Nercón, San Antonio de Padua de Vilupulli e Nuestra Señora del Rosario de Chonchi. Por ser a mais acessível para quem tem pouco tempo, também permite conhecer as coloridas palafitas de Castro e o centro histórico de Chonchi.

4. Ruta Restauración
Compreende duas igrejas com importantes processos de restauração: Santa María de Rilán e Nuestra Señora del Rosario de Chelín. Vale ressaltar que a igreja de Chelín, em sua própria ilha, requer planejamento especial para a travessia.

5. Ruta Isla Lemuy
Contempla três igrejas na Ilha Lemuy, acessível por balsa de curta duração desde Chonchi: Natividad de María de Ichuac, Jesús Nazareno de Aldachildo e Santiago Apóstol de Detif. Além das igrejas impressionantes, a ilha também oferece atmosfera rural preservada e vistas deslumbrantes.

Recomendamos dedicar ao menos um dia completo para cada rota – e dois para as que exigem travessias marítimas, considerando possíveis mudanças climáticas.
Um Arquipélago que se revela aos poucos
Esta segunda visita nos ensinou que Chiloé é como um bom livro que não se pode ler apressadamente. Cada retorno revela capítulos mais profundos de uma narrativa rica em tradições, sabores e paisagens que se transformam com as estações.
A princípio, o que nos atraiu foram as famosas igrejas de madeira e as palafitas coloridas que dominam o turismo em Chiloé. No entanto, agora, entendemos que a verdadeira magia do Chiloé invisível está nas conexões humanas e experiências autênticas, nas tradições vivas e na relação harmônica que os moradores mantêm com seu ambiente, apesar das mudanças trazidas pela modernidade.

Por isso, para quem deseja conhecer o verdadeiro Chiloé invisível, nosso conselho é: vá além do roteiro básico e busque um roteiro autêntico Chiloé que permita vivenciar experiências autênticas com os locais.
Reserve tempo suficiente para que o ritmo das ilhas possa se revelar naturalmente. Busque experiências imersivas, converse com os moradores e esteja aberto a descobrir que, em Chiloé, as histórias mais fascinantes raramente estão nos guias turísticos.
E você, já visitou algum lugar mais de uma vez e teve uma experiência completamente nova? Que aspecto da cultura chilota mais desperta sua curiosidade: as tradições gastronômicas, as lendas místicas ou a excepcional arquitetura em madeira? Compartilhe conosco nos comentários!
Para conhecer mais sobre a geografia e a história do Arquipélago de Chiloé, não deixe de conferir nossos artigos anteriores: Arquipélago de Chiloé e Igrejas de Chiloé
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Lúcia Paiva
maio 5, 2025 no 11:08 pm
Tivemos oportunidade de conhecer alguns pontos de Chiloé, particularmente, algumas de suas igrejas que são patrimônio da UNESCO. Mas, o que vejo, aqui e agora nessa postagem da Minha Viajem é simplesmente sensacional. Nossa! São lugares mágicos que nos levam ao inimaginável e que se fazem inesquecíveis. Gente, entrar em contato con o pequeno o mundo de Chiloé e ter a permissão dos locais que promovem a abertura desse Portal é simplesmente um banho de misticidade e de verdadeiro encantamento e beleza . Uma viagem, no mínimo, desbravadora. Amei e que viver tudo isso.
Minha Viagem Turismo
maio 6, 2025 no 4:07 pm
Que alegria ler seu comentário! 💛
Você captou com muita sensibilidade exatamente o que tentamos transmitir: que Chiloé vai muito além dos cartões-postais. É uma experiência que nos atravessa, que nos transforma. Cada igreja, cada vilarejo, cada história contada por quem vive ali — tudo isso abre mesmo um portal, como você tão bem disse.
Ficamos muito felizes por termos despertado essa vontade de voltar e viver ainda mais intensamente esse pequeno grande mundo! Quando quiser redescobrir Chiloé com outro olhar, estaremos por aqui para caminhar juntos. 🌿✨
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